Rattle -
Tales of the Dark Cult (CD)
2015 - Shinigami Records - Nacional
Nota 8,5/10,0
Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia
A mistura entre a brutalidade do Death Metal com a energia e
técnica do Thrash Metal é algo que vemos muito no Brasil. É uma herança
cultural nossa, com raízes no áureo triênio 86-87-88 do século passado. Mas o
melhor disso tudo é quando vemos uma banda fugir dos clichês do gênero e dando
o melhor de si, fugindo das desculpas e buscando seu espaço com personalidade.
E é justamente isso que o quarteto RATTLE, de Salvador (BA), nos concede em seu
primeiro álbum, "Tales of the Dark Cult", lançado pela Shinigami
Records.
Resultado da promoção ocorrida com a coletânea
"Hellstouch", lançada pela Shinigami Records em 2012, onde o RATTLE
ganhou o direito de lançar um álbum, podemos aferir que valeu a espera por
"Tales of the Dark Cult": o quarteto se diferencia de uma legião de
bandas que apenas usam e remixam os velhos clichês do gênero, sem pôr nada de
si na música. Com esses filhos da terra do Pelourinho, a criatividade impera,
inclusive com algumas doses de melodia no meio da brutalidade, acrescentando um
toque de classe ao trabalho agressivo da banda.
Produzido por Marcos Franco, a sonoridade é limpa e pesada,
verdade seja dita. Mas há momentos em que os timbres das guitarras poderiam ser
melhores. Óbvio que não chega a estragar o trabalho do grupo de forma alguma,
apenas poderiam ter aquela famosa dose de peso extra. E a arte, feita pelo
vocalista Val Oliveira ficou bem legal, focando um certo feeling de horror cru,
na linha do mestre José Mojica, o querido Zé do Caixão (que aparece em
"The Embodiement of Evil", tanto na narrativa quanto participando na
letra).
Rattle
O quarteto sabe criar bons arranjos, verdade seja dita, e
assim, suas músicas são sempre vibrantes, com uma boa riqueza instrumental. E
um adendo muito legal são as letras, pois a banda tem uma gama de temas
abordados ótima, mas sejamos francos: quando são baseadas em temas de horror à
lá Stephen King e Edgar Alan Poe, ninguém segura a banda. E dando uma canja,
temos as participações de Lord Vlad (vocalista do MALEFACTOR) em "The Dark
Cult", Júlio "Nikkury" Cesar (do METROPOLIS e THE ENDLESS FALL)
em "Hell of the Living Dead", Anton Naberius (do ETERNAL SACRIFICE)
em "The Call of Duty", Vitor Morais no violino e Daniel Iannini nas
orquestrações em " Insomnia (The Sleep of Reason Produces Monsters)",
além do mestre Zé do Caixão, já citado acima.
Melhores momentos:
The Embodiment of Evil - Se não reconhecer a voz do
"Horror Master" Zé do Caixão no início, você não respeita a si mesmo.
Mas logo, a banda mostra uma música rápida (mas com seus momentos mais lentos e
intensos), intensa e bem trabalhada, com a base rítmica mostrando ótima técnica
e pesada bem pesada.
The End - Aqui, a maior parte da faixa é cadenciada e muito
envolvente, mostrando um belíssimo trabalho nas guitarras, fora backing vocals
ótimo e muito bem colocados.
Call of Duty - Outra com o tempo não muito rápido, focada no
peso e em belos arranjos de guitarra (bastando reparar no solo), e vocais
guturais intensos, mas com boa dicção.
Operation: Exterminate! - Curta e rápida, o lado mais Thrash
Metal da banda está bem evidente, com aquelas guitarras em riffs ganchudos bem
pesados, mas os vocais e backing vocals mostram uma dinâmica bem interessante.
Last Standing Man - Outra em que a pegada Thrash Metal se
destaca bastante, embora a base rítmica mostre um trabalho bem mais bruto e
intenso em alguns momentos, mas não desprovido de ótima técnica, especialmente
o baixo que mostra-se muito bem.
Pay to Enter, Pray to Exit - A famosa faixa
"paulada-para-tudo-quanto-é-canto", que tem uma levada que nos trás o
MOTORHEAD à mente em vários momentos, inclusive no solo de guitarra. Mas
reparem bem como os vocais são muito bem explorados mais uma vez.
The Dark Cult - Por passar dos oito minutos de duração, é
uma faixa bem diversificada em termos de base rítmica, levando baixo e bateria
a terem que mostrar uma técnica muito boa.
Valeu esperar, pois "Tales of the Dark Cult" é um
belo disco, daqueles que você ouve várias vezes, e pune aquele vizinho chato
seu que ou te tortura com churrascos com música alta nos fins de semana, ou
aquele pentelho fundamentalista cristão que te massacra com música gospel.
É hora do acerto de contas!
Postagem original: Metal Samsara (21/08/2015)